segunda-feira, 6 de abril de 2015

Atividade de Análise do Poema "Este Inferno de Amar", de Almeida Garrett

Este Inferno de Amar

Este inferno de amar – como eu amo! 
Quem mo pôs aqui n’alma... quem foi? 
Esta chama que alenta e consome, 
Que é a vida – e que a vida destrói – 
Como é que se veio a atear, 
Quando – ai quando se há de apagar? 

Eu não sei, não me lembra: o passado, 
A outra vida que dantes vivi 
Era um sonho talvez... – foi um sonho - 
Em que paz tão serena a dormi! 
Oh! Que, doce era aquele sonhar... 
Quem me veio, ai de mim! Despertar? 

Só me lembra que um dia formoso 
Eu passei... dava o Sol tanta luz! 
E os meus olhos, que vagos giravam, 
Em seus olhos ardentes os pus. 

(Almeida Garrett. In: Lírica completa, 1971)


Questões

01) Aponte as características românticas presentes no texto; exemplifique em palavras ou expressões nele constantes.

Resposta: No título do poema, "Este infermo de amar",  já podemos encontrar uma característica muito marcante do Romantismo, que é um conflito de sentimentos muito grande por parte do eu lírico. O amor, que é um sentimento visto como nobre e bom, é apresentado como um inferno, representação de algo ruim. Outro aspecto que podemos notar é a temática do tempo passado, a saudade de um tempo que não volta mais, isso pode ser percebido no verso  "A outra vida que dantes vivi / Era um sonho talvez" ,aqui o eu lírico sente falta do tempo em que não amava, pois nesse tempo ele tinha paz. 
Como traços característicos do tempo romântico também percebemos uma escrita muito subjetiva e a supervalorização dos sentimentos do eu lírico, o mundo interior é colocado em primeiro plano e tem mais importância do que a razão. Percebemos isso nos seguintes versos: "E os meus olhos que vagos giravam / Em seus olhos ardentes os pus", aqui temos claramente a caracterização de um olhar diferente, o olhar da alma, o olhar que está repleto de sentimentos.

02)Transcreva uma antítese presente no texto.

Resposta: “Como é que se veio a atear, / Quando – ai quando se há de apagar?” 
Atear e apagar são palavras antônimas, o eu lírico quer saber quando vai se livar da chama do amor que foi acesa dentro dele, quando que esse fogo do amor irá se apagar e parar de fazê-lo sofrer.

03)O texto trabalha com o presente e o passado. Como o presente é caracterizado? E o passado?

Resposta: O passado é visto pelo eu lírico como um tempo bom e que ele tinha paz, pois não vivia o tormento de amar, ele sente saudades desse tempo. O presente é sofredor e é visto como um inferno, pois o eu lírico se deparou com a realidade do amor, que em sua visão o destrói e o consome por dentro. 

04)Qual a grande conclusão a que chega o poeta?

Resposta: O poeta entende que o amor, por mais que faça sofrer e o destrua por dentro, é também a força que o mantêm vivo, isso é notado nos seguintes versos: "Esta chama que alenta e consome, / Que é a vida – e que a vida destrói – ". 

05)Você concorda que a ideia de amor está sempre ligada à ideia de sofrimento? Justifique sua resposta.

Resposta: Não. Ao depararmos com a realidade do amor vamos sofrer, pois amaremos seres imperfeitos, humanos e que vão errar todos os dias, as limitações e erros de quem amamos nos leva ao sofrimento, nem sempre vamos concordar com algumas atitudes de quem amamos e nem sempre a pessoa que eu amo irá corresponder totalmente às minhas expectativas. Mas quando o amor é verdadeiro e recíproco não vem acompanhado somente de sofrimento, momentos de alegria e carinho podem e devem ser compartilhados na relação, não podemos focar somente nos aspectos ruins, mas ver o lado bom das coisas, e o amor é algo maravilhoso quando vivido com sabedoria e maturidade.

06)Analise o poema (com a sua própria leitura).

Resposta: O poema "Este Inferno de Amar" é perfeito para representar os traços característicos do Romantismo em Portugal. Uma primeira característica é o subjetivismo, no verso "Este inferno de amar – como eu amo!", isso fica em evidência no uso de pronome pessoal em primeira pessoa. Pode-se notar também a supervalorização dos sentimentos do eu lírico e as coisas da alma, aquilo que é interior ao homem, nos versos "Quem mo pôs aqui n’alma... quem foi? / Em que paz tão serena a dormi!" o uso dos termos alma e paz coloca em eviência essa característica. A fuga no tempo e no passado também podem ser notadas no poema, nos versos "A outra vida que dantes vivi / Só me lembra que um dia formoso" os verbos lembrar e viver nos remetem a questões temporais e mostra a saudade do eu lírico por um tempo passado. O poema traz contradições no que diz respeito ao sentido do amor, pois ao mesmo tempo que o autor relaciona o amor ao sofrimento, ao inferno e à destruição interior, no verso "Que é a vida – e que a vida destrói – " percebemos que o amor faz parte da vida e é ele que faz viver. É um poema muito profundo e cheio de sentimentos.