Universidade Estadual de Montes Claros
Centro de Ciências
Humanas
Departamento de
Comunicação e Letras
Curso de Letras
Português – 4º período / Vespertino
Disciplina:
Literatura Portuguesa II
Professora: Dra.
Maria Generosa Souto
Acadêmico: Welber
Nobre dos Santos
Atividade: Resenha
Crítica
Texto: Concepção do
Amor e Idealização da Mulher no Romantismo
Considerações a
propósito de uma obra de Michelet.
Autora: Emília Viotti
da Costa
Emília
Viotti da Costa é uma historiadora e nasceu em São Paulo no ano de
1928. É graduada em História pela USP, fez especialização na França também em
História e é doutora pela USP com tese de livre-docência.
O texto em questão trata da
dificuldade em fazer uma reconstituição histórica da forma de pensar e sentir
de uma determinada época. Tendo como base a obra de Michelet, que trata
justamente do amor e da idealização da mulher, ela leva o leitor a refletir
sobre como as concepções mudam com o passar do tempo.
Em um primeiro momento, a autora, Emília Viotti da Costa, tece algumas
considerações sobre a dificuldade em retratar os sentimentos e pensamentos de
uma determinada época, diz que o historiador corre o risco que generalizar
certas ideologias na tentativa de fazer uma reconstituição histórica.
A autora defende que ao caracterizar
o pensamento e sentimentos e um determinado grupo social em uma determinada
época não irão faltar documentos históricos que ajudem nessa elaboração, mas o
historiador deve ter cuidado na interpretação das palavras, pois a forma não
mudou, mas o sentido já não é o mesmo, pois o tempo passou.
O texto também aborda que, em um
trabalho de reconstituição histórica, o historiador não consegue captar a
realidade em tudo que ela apresenta, e isso leva à generalização de sentimentos
e idéias não levando em conta aquilo que é particular de um determinado grupo
social. A autora discorre que, todo o material escrito analisado pelo
historiador nem sempre representa o verdadeiro estado de espírito da
coletividade, e há obras que soam mais como protesto social do que espelho da
realidade vivenciada.
Emília Viotti ainda destaca que, na
reconstituição histórica, nem sempre as obras mais famosas são as que vão
melhor representar o pensamento vigente, muitas vezes as de menor valor
literário, por estarem mais próximas ao povo melhor representam a realidade
social. Outro aspecto ressaltado pela autora é a utilização de textos
traduzidos pelos estudiosos, pois na maioria das vezes eles não têm acesso à
obra original, isso também deturpa a realidade. As traduções trazem termos
atuais que possuem sentidos diferentes dos primitivos na obra original, isso
leva aos erros de interpretação.
De acordo com a autora, outro ponto
que interfere na elaboração da reconstituição histórica é a posição filosófica
que o historiador assume em seu trabalho de investigação. A autora cita quatro
perguntas que ela acredita serem norteadoras na pesquisa do historiador e
defende que elas condicionam o resultado do processo investigativo, assim
evidencia-se também que o trabalho de reconstituição também passa pelo viés do
historiador, subjetividade.
Assim, Emília Viotti diz que, ao
analisar sentimentos e idéias do passado, há uma possibilidade de o historiador
também se retratar e colocar em evidência características pessoais dele além do
tempo que está estudando.
Entrando no tema central do texto,
que é a concepção do amor e da idealização da mulher no Romantismo, a autora
acentua que todas as considerações feitas acerca do trabalho de reconstituição
histórica tornam-se compreensíveis.
Dando prosseguimento ao texto, a
autora expõe que, por meio das diversas obras literárias podemos perceber como
a maneira de amar e a concepção do amor vai sendo mudada ao longo do tempo. A
autora cita o amor na época da cavalaria, no século XVII, que caracteriza bem
essa riqueza de diferentes manifestações amorosas.
Ao introduzir a temática central do
texto, a autora levanta uma série de questionamentos que nos levam a refletir
sobre até que ponto as obras literárias produzidas durante o período do
Romantismo realmente representam a realidade da época. Considero muito
interessante o posicionamento da autora quando ela expõe a possível diferença
existente entre o ato de sentir e definir o amor, a ideia que se tem de um
sentimento e aquilo que realmente se sente, por isso, até hoje encontramos
muitas dificuldade quando vamos definir o que é um determinado sentimento,
pois, como o próprio nome diz, é algo que se sente, não tem como explicar.
Outra indagação de Emília que
considero muito pertinente é quando ela sugere que muitas vezes o retrato do
amor e o jeito que a mulher é caracterizada pelos autores românticos podem
estar atrelados somente a alguns grupos, não representando assim uma totalidade
social, podemos associar isso à questão da generalização que foi citada no
início do texto.
Todas as considerações feitas pela
autora partiram de uma análise feita da obra de Michelet: L’Amour, publicado em
1858. De acordo com o texto, a obra em questão apresenta uma visão do amor e da
mulher perfeitamente enquadrada nos moldes do Romantismo e só pode ser
compreendida se as características de tal estilo forem levadas em consideração.
Ao abordar a obra de Michelet, a
autora comenta sobre a literatura pré-romântica e cita várias de suas
características, como o prazer de se sentir bom, caridoso e meigo, a
preferência pelas atitudes suaves. Em contrapartida, na literatura do século
XVIII também se manifesta o gosto pela crítica social e moral, voltando-se
principalmente contra os preconceitos aristocráticos, diz a autora. Havia uma
crítica àqueles casamentos sem amor, que aconteciam somente por uma questão
financeira ou social. Todos os aspectos que se evidenciaram na produção
literária do século XVIII continuariam no século XIX com a literatura
romântica.
A autora diz que as transformações
político-sociais que atingiram o mundo ocidental não acabaram com as
características literárias vigentes, pelo contrário, reafirmou-os mais ainda.
Falou sobre as novas condições de vida para os homens de letras, a ascensão
social que ocorreu nessa classe e como o desenvolvimento da imprensa ajudou na
expansão das obras literárias e a propagação das ideias românticas.
Dando continuidade, Emília faz uma
comparação entre o classicismo, onde predomina a razão, e o romantismo, que
defende a sensibilidade e a imaginação. A autora cita Coleridge, 1801, que nos
faz entender que, a sensibilidade é guia mais seguro do que a razão.
A autora dedica uma parte do texto
para falar sobre as características das obras do Romantismo, cita o casamento e
o amor com algo divino e sagrado, que não pode existir a união de um homem com
uma mulher se não existir amor. Cita Shelley, que defende que é contra a
natureza uma mulher que é fiel ao seu marido se não há amor no casamento.
Levando em consideração à temática
da idealização da mulher, traço marcante do Romantismo, a autora destaca dois
tipos de mulheres: a mulher anjo e a mulher demônio. A primeira é purificadora
do coração do amante, aproxima-o de Deus, representa o amor salvador, aquele
que revela as dimensões do bem. Em contrapartida, a mulher demônio é a figura
do demônio, aquela que seduz e que leva o homem somente aos prazeres carnais,
enfeitiça, seduz e possui um encanto mágico, é um amor de perdição, uma espécie
de maldição e tormento espiritual e psicológico.
Falando um pouco sobre a obra de
Michelet, L’ Amour, a autora diz que a obra resume muitos dos aspectos da
concepção do amor e da idealização da mulher típicos do Romantismo. Emília
defende que Michelet explicita seus objetivos moralizantes em sua obra, ele a
escreve também com o objetivo de denunciar e ajudar a modificar a realidade na
qual está vivenciando. Na obra, Michelet apresenta a mulher como frágil e
indefesa, atributos que não combinam muito bem com a época em questão, pois o
quadro social era de afirmações feministas, de desejos de emancipação política
e social da mulher, lutava-se contra qualquer tipo de preconceito. A mulher já
ia contra a ideologia social, fumava e bebia.
Concluo que, a autora Emília Viotti
da Costa apresentou muito bem a temática pretendida por ela, a concepção do
amor e idealização da mulher no Romantismo. Usando a obra de Michelet, foi
muito pertinente os comentários da autora a cerca do mesmo, tendo em vista que
a obra em questão coaduna com os propósitos do texto. A autora utilizou de uma
linguagem clara e objetiva, o que faz com que o leitor tenha uma clareza maior
a cerca do assunto.
Fim!
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